quarta-feira, 14 de agosto de 2013

[Deserto do Atacama] 1ª parte: Como tudo começou e os imprevistos...


Inicio o presente relato cumprimentando os meus familiares, amigos, colegas e aqueles que não me conhecem ainda, mas que também visitam o blog para ler sobre as minhas aventuras. Peço desculpas pelos meses sem qualquer postagem, nem mesmo uma singela satisfação pela minha ausência das telas virtuais. De fato, estamos no mês de agosto e tantas coisas aconteceram de março para cá, que corro um sério risco de perder valorosos detalhes, mas garanto que, todas essas lembranças, quase todas inesquecíveis, certamente estão em algum lugar da minha memória e, no momento certo trarei à luz do dia. Onde quero chegar com tudo isso? Na verdade, estou tentando encontrar o melhor ponto, talvez puxando pelo fio do meu último texto, onde as coisas não aconteceram da forma como eu previa: começaria pelo artigo sobre a Corrida de Montanha em Mogi das Cruzes, porém, uma contusão apareceu de maneira inesperada e no pior momento possível (se é que existe algum momento para se machucar!). Só que eu estava determinado, nada naquele momento era forte o suficiente para me fazer desistir, eu caía, mas levantava, eu tropeçava, mas me equilibrava, eu estava disposto a superar obstáculos nunca enfrentados, o medo para mim servia como motivação, as incertezas soavam aos meus ouvidos com certo incômodo, entretanto, eu sempre acreditei que poderia dar a volta por cima, de um jeito ou de outro.


Em meados de julho de 2012 eu cometi uma das maiores ousadias da minha vida: realizei a inscrição para participar da Maratona do Deserto do Atacama, organizado pelo pessoal do Mountain Do, oriundos de Santa Catarina. Confesso que foi um ato de impulso, mas que permitiu sonhar com algo nunca antes vislumbrado: correr quarenta e dois quilômetros no deserto mais árido do mundo! A vontade de conhecer o mundo correndo havia atingido níveis “perigosos”, já que nem mesmo no meu “Mundo de Bobby” eu poderia calcular tamanho nível de insanidade que “corria” em minhas veias. As batidas do coração pareciam verdadeiros “cutucões”, como se quisesse me intimar: “Daniel, que história é essa?”, “Você ficou louco?!”, “Você quer correr num ambiente totalmente adverso e hostil para a prática esportiva?”. Isso foi uma das inquietações que cercavam os meus pensamentos, mas, como disse anteriormente, nada naquele momento me faria voltar atrás. Estava decidido! A primeira “dor” foi sentida no pagamento da inscrição: R$ 710,00. Doeu como se tivesse fazendo uma intervenção cirúrgica sem anestesia (risos), apesar de ter ciência de que não se tratava de uma prova qualquer. Dali em diante, sabia da imensa responsabilidade que cresceria mais e mais na medida em que o dia da maratona de aproximava.


Saltando para 2013, no final do mês de janeiro, participei de uma corrida de montanha em Mairiporã, o local não era novidade, já havia corrido lá no ano anterior. Terminei a prova apenas com dores decorrentes do esforço exigido no percurso irregular, mas nada que fosse motivo para preocupação. Já durante a semana, uma dor diferente das que eu estava acostumado a sentir no pós-prova fez residência em meu corpo, achei estranho, ainda mais porque atrapalhava até mesmo no caminhar. Procurei um especialista, onde fui prontamente encaminhado para realizar uma ressonância magnética no pé direito. Tomei alguns anti-inflamatórios, que sucumbiram com a dor durante um tempo. A ressonância apresentou um quadro com várias micro lesões, boa parte delas originadas na própria atividade física, que me acompanha desde as minhas primeiras corridas. Nada grave, segundo o ortopedista, que me tranquilizou dizendo que são avarias comuns nos atletas. Ele autorizou o meu retorno aos treinos, desde que realizasse um trabalho de fortalecimento muscular, caso o contrário a situação poderia agravar-se. O tempo era curto, já estava na segunda quinzena de fevereiro, quando resolvi procurar a única pessoa capaz de trazer resultados imediatos: a Alexsandra Winckler, amiga e fisioterapeuta das mais competentes.


Iniciamos um trabalho mesclado entre fisioterapia e fortalecimento muscular com auxílio do Power Plate (plataforma eletrônica vibratória, em que as células são atingidas mutuamente). Frequentava de duas a três vezes por semana, além de seguir na academia com aulas de Deep Running (o instrutor Leo – academia Bodytech Shopping Eldorado - prescreveu aulas específicas na água, voltadas para o fortalecimento do meu tornozelo). Apesar de estar confiante, sabia que seria muito difícil alcançar condições plenas para correr, ainda mais com o agravante de ser no meio do deserto. Mas como eu estava resolvendo os problemas por ordem de prioridade, a dor era a primeira coisa a ser enfrentada. As primeiras sessões de fisioterapia foram complicadas, a dor era latente, no entanto, a boa conversa da Alexsandra desviava a minha atenção e com isso os dias foram passando e desaparecendo com as dores. O mês de março “batia à porta”, o que significava pouco menos de duas semanas para a viagem. Deixando as dores de lado, o fato de conhecer o Chile me agradava muito, sem contar que, viajar é tudo de bom, não importa a ocasião.


O embarque estava marcado para o dia 13 de março, uma quarta-feira, sendo que permaneceria até o dia 19, data do meu regresso ao Brasil. Costumo dizer que a soma das sessões de fisioterapia, educativos na piscina e a minha determinação foram preponderantes para chegar às vésperas da viagem totalmente recuperado das dores. O único problema era não ter conseguido treinar, já que para treinar é necessário não sentir dor. Seguindo as prioridades na resolução dos problemas, essa seria uma coisa a ser resolvida no Chile, não queria me preocupar antes da hora. Falando um pouco sobre o evento, o Mountain Do “locou” o ambiente do deserto para realizar uma prova voltada apenas para os brasileiros, não havia disponibilidade de inscrição para estrangeiros. A distância principal, a maratona (42Km) seria acompanhada de uma prova de 23Km, além de uma corrida comemorativa na distância de 6Km. Isso tudo, lógico, é para abranger uma quantidade maior de pessoas. Recebia periodicamente informativos via-mail com dicas sobre a região, gastronomia entre outras informações referentes a maratona em si.


Fui muito bem assessorado pela agência de viagens “Conexão Tour”, fiz o pacote aéreo e terrestre com eles (por intermédio do Jakson, que prestou todos os esclarecimentos de maneira rápida e eficaz). Antes de embarcar, adquiri uma quantia razoável de pesos chilenos, moeda local, além de levar alguns dólares para alguma emergência. Recomendo que façam o seguro viagem, para os dias que permanecerão, afinal, nunca sabemos o que pode acontecer. O embarque, no aeroporto de Cumbica (Guarulhos) procedeu sem atrasos, e o desembarque ocorreu tranquilamente no Chile. No entanto, haveria ainda um voo local, pois o meu destino não era a capital Santiago, mas sim a cidade de Calama, de onde haveria um ônibus me esperando. Nesse ínterim, encontrei vários brasileiros, de várias partes do país, cada um com uma expectativa diferente, mas todos ansiosos em explorar o deserto. A noite já caía na cidade de Calama quando desembarquei e segui para o ônibus, havia agentes de turismo com as famosas plaquinhas tentando localizar os passageiros. Já dentro do ônibus, após praticamente um dia viajando entre aviões, conexões e esperas no aeroporto, o deslocamento terrestre prometia ser a última escala antes da chegada ao hotel. Uma coisa me chamou a atenção: o céu preenchido com milhares de estrelas, um cenário impressionante.


Por incrível que pareça eu não estava preocupado, é bem verdade que certa ansiedade me deixava um pouco inquieto, isso por causa do clima, já que a temperatura era uma espécie de “roda gigante”, de dia os termômetros atingiam os graus mais altos, enquanto que a noite registrava quedas absurdas, virando sempre em escalas negativas. Essa adaptação seria necessária em todos os sentidos, sem contar a questão da altitude, estaria a 2.200 metros acima do nível do mar, situação em que não ocorre em terras brasileiras. Ao passo que vou escrevendo, as lembranças vão surgindo e ilustrando com vivacidade a minha imaginação, permitindo transmitir com precisão tudo aquilo que estava sentindo. Sempre viajei sozinho (pelo menos até agora) e encontrei no blog a oportunidade de relatar as coisas que vivenciei, para que futuramente outras pessoas experimentem e possam desfrutar. Não tenho vergonha em citar os equívocos, eles servem de aprendizado, algumas coisas eu aprendo na primeira, outras vezes acabo cometendo erros para assim, poder fazer o certo na sequência. Espero que vocês não estejam entediados com a leitura, dedicarei a segunda parte aos ótimos passeios, todos eles munidos de duas câmeras fotográficas (risos).


A província de San Pedro de Atacama é a área habitada mais próxima das regiões desérticas do Chile, por isso, é um atrativo aos turistas de todo o mundo. Além disso, é um lugar que possui cerca de dois mil habitantes, com construções rústicas, não possui ruas asfaltadas, onde o turismo é a “salvação” daqueles que residem ali. Logo que cheguei, por volta das 22h00, fui direto para o meu quarto, uma espécie de chalé, onde o silêncio prevalecia sob o frio que se impunha noite adentro. Quando viajo, gosto de um mínimo de conforto, por isso me dispus a pagar um pouco mais para ter esse capricho atendido, coisa que o Hotel Tulor oferecia. Necessitava descansar, pois a jornada do dia seguinte prometia fortes emoções. Uma coisa era certa: se não conseguisse correr, não faria daquilo um empecilho para aproveitar a viagem da melhor maneira possível. 

7 comentários:

  1. Saudade, saudade das suas desventuras pelo universo....se divertindo e correndo! Não se preocupe que ninguém ficará entediado, pois os detalhes e lembranças que você descreve, são super necessários para nos manter "interessados". Parabéns por mais esse desafio, afinal o que é a vida sem eles? Agora fico aguardando aos outras partes, para poder saber o que o deserto fez em você! bjo

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  2. Ah! Uauuuu............... fotos maravilhosas, esse azul é tudo na vida!!!

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  3. Adorei ler sobre sua viagem, mas tava ansiosa pra ler sobre a corrida, vamos esperar muito? rsrs beijo

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  4. Parabéns, Daniel!
    Um maratonista experiente e ousado!
    E eu ainda sentindo o frio na barriga pela loucura do desafio de completar os meus primeiros 42,195km!
    Espero também ter lindas imagens deste momento!
    Bjs
    Kátia

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  5. Dani, adorei o seu blog, as fotos são lindas, o texto bem redigido! Alimente sempre o seu blog com novidades e DICAS para os iniciantes deste esporte tão lindo e querido.
    Beijos
    Cilene Pignataro

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  6. Mais uma vez Parabéns Dan!
    O texto está ótimo! As fotos maravilhosa,

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  7. Parabéns pelo Blog, Daniel!!!
    Maravilha seu relato...deve ser uma prova alucinante!!!
    Beijos,
    Tamy Cecy.

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